Em frente da estação de Novara, na praça que para um filme poderia
chamar-se CTB=centro das comunicações BUS-autocarros-comboios, existe um muro
que poderia chamar-se “muro dos namorados”. Neste muro com menos de um metro de
altura por meio de largura poderia girar-se uma cena que se repetia ao longo de
um filme: ela senta-se no muro com as costas contra uma coluna e as pernas
abertas pendentes dos lados do muro. Ele senta-se em frente em idêntica
posição, passa as pernas dela sobre as suas, aproxima-se, beijam-se … as pernas
dela entrelaçam-se nas costas dele, aproximam-se sempre mais e as pernas dele
baloiçam parecendo exprimir com o ritmo a intensidade das emoções e felicidade.
Esta cena pode repetir-se com neve e eles muito cobertos com capotes
deixando aos passantes imaginar o que se passa debaixo, num dia de Sol com
ambos pouco vestidos, numa praça deserta a meio da noite, numa hora de ponta
com o muro cheiro de jovens estudantes em posição idêntica e um casal de jovens
a beijar-se de pé enquanto esperam que se liberte um posto.
Passa um casal de velhos e ela comenta: “É uma vergonha. Nós tivemos de nos
casar para fazer em privado o que estes fazem em público. Recordas-te da
primeira noite, da primeira vez, do sangue nos lençóis, … “
Ele recordou a primeira noite com prostitutas, como se iniciavam 100% dos
jovens italianos daquele tempo, segundo confessou Santi Licheri na TV ao
programa Forum quando lhe fizeram a festa dos seus 90 anos.
Um velho quase com a idade de Berlusconi lê em La Reppublica o que Corado
Augias escreve das virtudes do novo governo e vícios do anterior, da vergonha
de Rubygate, dos 84 parlamentares indagados ou condenados.
Um extraterrestre disfarçado de humano muito normal lê o pensamento do
velho que alterna a leitura do jornal com as fantasias de estar ao posto
daquele jovem com as pernas daquela jovem sobre as suas, … ou ao posto de
Berlusconi quando estava com Ruby…
Um passante que vai encontrar a namorada e imagina que no dia seguinte
estará com o grande amor da sua vida, passará a noite e dia a fazer amor, …
Um divorciado que vai encontrar uma viúva a Berlim e sonha que no dia
seguinte estará debaixo de lençóis a fazer o que aqueles simulam fazer em
publico. A viúva leva-o a visitar os restos do muro de Berlim, conta-lhe dos
mortos por tentarem passar aquele muro, de um político que destruiu a sua
carreira porque via TV da Alemanha Ocidental. Naquele tempo era proibido por
lei da DDR, (Alemanha comunista), ver TV do capitalismo, da Alemanha Ocidental.
Podia ser mais punição na DDR por ver TV do Ocidente do que em Itália por ser
boss da pior banda criminal ou matar muitas pessoas. O assassino de Walter
Tobagi passou menos de 3 anos na prisão.
Imagino um filme onde estas cenas continuam, com várias histórias como a de
Romeu e Julieta, com pessoas que se amam e querem fazer amor mas encontram
obstáculos como as calças dos sentados no muro de Novara e outros impedidos
pelo muro de Berlim. O muro de Berlim torna-se um símbolo das fronteiras e
obstáculos à concretização de relações pessoais, sexuais ou simples comunicação.
A sua queda torna-se um símbolo da caída dos tabus e dificuldades de relações.
A queda do muro coincide com o desfloramento de uma virgem que queria esperar
pelo casamento, de uma viúva da DDR que faz amor pela primeira vez com o
divorciado, primeiro amor separados com o muro…
A destruição do muro torna-se um orgasmo colectivo…